A imperfeição do SER
Um número razoável de pessoas tem, digamos, uma determinada obsessão pela perfeição. Esta preocupação contínua está, muitas vezes, presente desde o nascimento.
Os pais, compreensivelmente, esperam que o filho seja perfeito, e de forma inconsciente incute-se esta ideia. Espera-se que o nosso filho ande cedo, que articule as primeiras palavras a uma certa idade, que coma bem, … enfim um certo número de características que fazem das salas de espera do pediatra uma rivalidade entre mães, onde é frequente ouvir-se, “mas o meu já faz isto, e já fala” (nem que só emita sons verdadeiramente imperceptíveis), e a pobre mãe preocupada porque o seu filho ainda não atingiu a “meta” programada pergunta-se se alguma coisa não estará “perfeita”.
Esta “perfeição” também é esperada na Escola, quer pelos professores, que querem alunos caladinhos, com boas notas, e a fazerem aquilo para que estão, ou deveriam estar, programados e até pelos próprios pais (muitas vezes pressionados). E quando existe algo fora dos parâmetros “ditos normais” já é um “ai Jesus”, para a pobre da criança, que se vê num sistema onde não corresponde ao esperado, e para os pais que começam a massacrar as suas cabeças, e claro, a cabeça do filho, para que atinja algo, que alguma cabeça iluminada dita como “normal e esperado”, como “perfeito”, ou seja, a individualidade da criança não é de todo respeitada.
E a mania da perfeição continua pela vida, aplicamos este estigma a quase tudo. O dia do casamento tem que estar perfeito, nada pode fugir, e se isso acontece, teremos uma noiva em stress (isto dá mais às noivas;)) uns pais em stress, e lá se vai o momento que deveria ser “perfeito”!
As relações, também, têm que ser perfeitas, e esta fixação conduz a muitas separações, porque simplesmente se criou uma imagem impossível da vida em conjunto. Quebra-se ilusão e a paixão. Só o amor e a consciência da realidade prosperam.
Reparei, com a rotineira pergunta “Então como foi esse Natal?”, que a perfeição é algo que está tão intrincado, que no seu culminar, destrói toda a magia de um momento que tinha tudo para ser perfeito, se não esperássemos dele mais do que ele nos pode dar. E vi isso pelas repostas à minha pergunta,
- É… passou-se…
Caramba! Mas passou-se bem ou mal?
Passou-se! Não foi perfeito.
Não foi perfeito porque não estavam os filhos todos juntos, uma vez que muitos estão casados e tiveram que se dividir pela outra família. Não foi perfeito porque se ficou em stress para que tudo corresse bem, e esqueceu-se assim de viver o que tinha à frente. Não foi perfeito porque, sei lá, uma série de desculpas que damos para não viver o SER.
Não preciso de ser cartomante, nem de saber ler os astros, para dizer que 2012 não será perfeito! Não será perfeito nos 366 dias que irá ter!
Mas se quisermos, e esquecermos todas as suas imperfeições poderemos simplesmente SER…
Poderemos “SER” para deixarmos de SOMENTE existir em 2012!
Para quem passa por aqui, silenciosamente, ou deixando-me um miminho com o seu comentário, o meu tento deseja com toda a plenitude que o vosso 2012 vos faça “SER” e não somente existir! Vos faça apreciar os momentos não buscando a perfeição mas sim a sua simplicidade! Lembrando sempre que a imperfeição do SER também faz parte da nossa essência.