Qual é a cor?
A maior parte dos que visitaram este blogue provavelmente já se esqueceram da sua existência… mea culpa. Primeiro porque tive um longo afastamento e depois coloquei aqui um post, numa esperança de regresso, mas foi um retorno muito tímido, a menos do chamado “meio gás”.
Além disso, não tenho ido aos vossos cantos. E nem sei quando terei hipótese de o fazer como queria. Lembro-me de cada cantinho da blogosfera com carinho, mas a verdade é que estar no computador torna-se algo custoso para mim. Portanto, decidi fazer deste “Eu tento, mas o meu tento não consegue” apenas algo onde venho debitar algumas ideias, sabendo de antemão que o meu afastamento dos vossos espaços se traduzirá em menos visitas ao meu também, é o normal…. Esta troca é essencial, mas nem sempre possível e já aceitei que não vale a pena a angústia de não conseguir ir aqui e ali e contento-me com o que posso.
Não sei se já perceberam pelo post anterior que estou numa fase menos boa, além de muitas outras coisas que me têm acontecido, perdi o meu pai para a morte. Já tinham falecido de família, 2 avós, um avô, e uma tia. Mas a morte de um pai não se compara a nenhuma dessas. Uma parte de mim se rompeu!
Depois de ter assumindo um papel maternal em relação a ele, com a maldita demência. Inclusive a escolha para o lar onde ele estava foi na cidade onde vivo, e não na área de residência dos meus pais, tudo para que eu pudesse dar-lhe mais apoio, algo que a minha mãe não conseguiria de todo. Isto acabou por se traduzir numa relação mais forte com ele.
Tentei sempre que ele mantivesse alguma dignidade numa doença que nos tira tudo.
Agora resta-me o luto.
E o que é o luto?
Eu sei que existem todas aquelas “regras” de luto, que até têm uma história interessante, segundo uma pesquisa no sabichão Google, mas que se transformou em algo muito estranho. Para tios têm que se andar três meses de luto, avós meio ano e pais dois anos. As viúvas normalmente vai de três anos, ou então, ao resto da vida que lhes resta estar neste mundo sem o companheiro. Isto são normas seguidas com certo rigor na aldeia dos meus pais!
Numa pessoa como eu, que odeia a cor preta, imaginem o que é…
No dia em que soube que o meu pai faleceu tive que ir comprar, a correr, e no meio de muitas coisas a tratar, umas peças de roupa preta porque nem para o velório e o funeral eu tinha algo preto que servisse para o efeito. Obviamente tenho um vestido todo “pipi” que é preto, mas nada indicado. Agora imaginem a cabeça com que eu estava para andar a escolher roupa…. Mas TINHA QUE SER!!
E agora pergunto, quanto tempo tenho que vestir o preto?
Afinal em que é que a roupa que visto se relaciona com o sentimento de perda em relação ao meu pai?
Na minha opinião, e aquilo que eu sinto, é que o luto está dentro de mim. O luto é aquele que eu faço todos os dias nos meus momentos mais só. Quando as lágrimas correm sem destino e sem controlo. Isso é o meu luto. Não é a cor da roupa que visto ou deixo de vestir.
Agora poderão dizer-me que a roupa é o espelho do nosso estado de espírito. Aqui eu digo, não será então melhor, e para ajudar alguém que está na fase de luto, daquele luto interior que vos falei, vestir algo mais alegre e airoso, que a ajude a sentir-se melhor? Quanto mais não seja melhor por fora já que por dentro está tudo partido…
Sei que o meu pai compartilhava das minhas ideias e sei que ele nunca desejaria, e sabendo a minha rejeição pela cor preta, que eu me forçasse a vesti-la. Mas o certo é que neste primeiro mês, algo tão enraizado em mim, me levou a usar o escuro. Mas não vou fazê-lo mais. Não consigo, monetariamente falando, mudar o meu guarda-fatos. E também não consigo mudar a minha forma de racionalizar isto.
Estou de luto sim. Mas dentro de mim. E não tenho tempo marcado para deixar de estar assim… Serão os tais dois anos? Não sei… Já me disseram que o tempo ajuda. Mas, para já, algo nas minhas entranhas dói demais para que eu possa ditar quando deixará de doer assim!
Foto retirada da internet