Corrida ao ouro
Imagem retirada daqui
No interior deste Trás -os Montes perdido estão muitas aldeias. Aldeias de gente com rugas em que cada uma tem sua história.
Existe, no entanto, uma que conheço, que hoje tem algum destaque no Jornal Público, onde se fala de uma firma canadiana que ganha concessão para exploração e prospecção de ouro em Jales, prevendo-se na fase de exploração a criação de 100 postos de trabalho directos e 250 indirectos!
Jales pertence ao concelho de Vila Pouca de Aguiar e Distrito de Vila Real, teve a sua época áurea na extração de ouro, e é necessário que se diga, a única mina de extração de ouro em Portugal!
Segundo dizem os antigos desde a época da invasão romana que se extrai dali este precioso e almejado metal. E muitos são os vestígios por lá espalhados. Mas restam também muitas histórias sobre mouras encantas presas por singulares feitiços e deixadas à sua estranha sorte. Por isso, talvez também os povos muçulmanos tivessem por lá andado.
Uma aldeia perdida com boas gentes. Gentes de face vermelha, sangue na guelra, trabalhadora e muito hospitaleira.
Além da extração de ouro, que promovia a criação de muitos postos de trabalho, podiam-se ver em redor da aldeia a vida a frutificar nos imensos campos cultivados. Aliás, a vida florescia em todos os recantos desta pequena região muito movimentada do Planalto de Jales. Poucos seriam os que emigravam, para tentar outra sorte que não as minas. Mas muitos ficavam, agarrados à sua terra, ao seu país e trabalhando, contribuindo para uma extração diária de cerca de um kilo de ouro por dia!
E Jales crescia e produzia... a história? Essa pregou-lhe uma terrível partida... Na década de 90 a a cotação do ouro baixou, os custos de extração aumentaram muito, a empresa foi acumulando dívidas à EDP e à Segurança Social, acabando por entrar em insolvência e fechar.
Foi a catástrofe... perderam-se empregos, dissolveram-se contos deixados para trás, lágrimas ficaram... os campos? Esses foram deixados, secos como a alma de quem partiu, de quem conseguiu partir e arranjar esperança. Alguns ficaram, com as castanhas, com o vento, com a labuta de nada e com a esperança de tudo.
Despovoamento, pedras soltas e perdidas... pobreza.
Crianças? As poucas que existem penso que ainda correm por lá... seu destino? Sair dali para conseguir algo da vida.
Tentam agora dar-lhes esperança com esta nova prospecção e com a criação de postos de trabalho tão bem vindos, tão emergentes! Será mais uma das promessas vãs? Será mais uma das ideias de prospecção que só fica na intenção e não nas mãos que precisam de se calejar?
Oxalá que chegue a esperança de quem já está habituado a perder tudo, a ser esquecido e a não ter nada!