A noiva - parte II
Continuação daqui
Ficaria por lá ainda mais uns meses, dois, altura em que tendo passado o meu lugar a um novo substituto seria colocado na cidade Sá da Bandeira, Huíla após independência, e seis meses depois passaria à disponibilidade, quase quatro anos depois de para lá ter entrado.
Repreendi a minha vida, fiz o que gostava de fazer antes da vida militar me ter cortado o impulso e joguei futebol antes de pensar em trabalhar. Até então trouxera sempre comigo em primeiro plano martelando-me o cérebro, a estranha revelação do desventurado rapaz, mas o futebol por um lado e a vida civil por outro, foram, aos poucos, dando lugar a outros interesses incomparavelmente mais congratulantes, como por exemplo: as miúdas que, pelo menos nos últimos três anos quase esquecera que tal espécie habitava o planeta, e a revelação/pedido do desditoso rapaz foi esmorecendo na proporção dos novos conhecimentos femininos que iam aumentando. E depois, …ia dizer a quem?
Futebol não deu em nada, o meu contrato com o Belenenses falhou um dia antes da assinatura do dito devido ao alto iluminismo do meu amigo que não arranjou melhor ocasião de comprovar se o macaco suportava efectivamente a carrinha e num arroubo de sublime brilhantismo, resolveu balançá-la comigo debaixo dela a reparar o escape, e depois de sair do hospital fui mesmo forçado a ter de trabalhar…à minha maneira, claro: isto é; por aqui e por ali nunca assentando arraiais demasiado tempo no mesmo lugar e sempre acompanhado de extrema perigosidade mortal para a minha integridade física, coisa de somenos importância e para à qual há muito deixara de passar cartão, mais concretamente para aí a partir dos meus cinco anos, altura em que o meu insólito destino se manifestara.
Mas como não são as minhas venturas nem desventuras que interessam para esta história, prossigamos e cinjamo-nos a ela.
Nessas deambulações, dei por mim no ocaso do indelével ano de 1968, na cidade do Huíge onde por Graça Divinal e assaz nunca merecedora, conheci uma encantadora menina que de entre a multidão me distinguiria com os seus mais belos sentimentos e dois meses depois era, e sempre seria, a minha adorada mulher até a Vontade Suprema me ter dito, 37 anos depois, que ela já não era minha.
“Meu amor, minha vida.
Amei-te quando te vi
E nos teus olhos
Eternamente me perdi”
E chegámos ao ano de 1972. Chegara ao meu conhecimento uma obra de grande importância que o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) ia levar a cabo entre as cidades do Lobito e Cubal. Interessou-me assunto e depois de me aconselhar com minha mulher, assinei um contrato e mudamo-nos para a cidade do Lobito, cidade essa onde a empresa estava sedeada.
E foi logo na primeira noite do primeiro dia em que me apresentei ao serviço, que ouvi falar dela, da estranha e belíssima noiva de branco trajando, que entre as oito horas da noite e as zero horas de todas as Sextas-feiras do mês de Agosto, inalteravelmente aparecia na estrada que ligava as cidades de Lobito e Benguela.
Depois fui sabendo coisas sobre ela, verdades, meias verdades, probabilidades, enfim; toda essa amálgama costumeira de quem conta um conto aumenta um ponto, e o que verdadeiramente retive foi o drama terrível de uma mulher a quem a esfuziante beleza que infalivelmente deveria fadá-la à felicidade eterna, ter servido apenas como veiculo condutor à sua desgraça.
Continua...