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Eu tento, mas meu tento não consegue!

Sabendo que nem sempre vou conseguir ir aos vossos espaços, mas nunca vos esquecendo e sempre tentando...

Eu tento, mas meu tento não consegue!

Sabendo que nem sempre vou conseguir ir aos vossos espaços, mas nunca vos esquecendo e sempre tentando...

A noiva - parte IV

 

Noiva Fantasma.jpgImagem retirada da internet

 

Continuação daqui

 

 

E lá estava ela, estátua de mármore, fantasma de carne que se recorta em contraluz”

 

Imaginemos o sofrimento suportado por essa alma solitária, o desespero silenciado pela ausência de uma voz amiga, de um coração solidário. Ela já não estava ali. Já não há mundo, não há casa, pai, (mãe nunca houvera) não há vida, não há nada. A sua existência assemelhava-se agora a um quadro negro, terra ressequida, queimada, ausência de vida e de cor, natureza morta, deserta , paisagem cinzenta e nua esbatida a esfuminho.

O pranto silencioso com as lágrimas vertendo para dentro, afogando-lhe a alma.

Quando a sua criada de quarto a veio avisar que o pai lhe pedia que descesse e viesse cumprimentar o pretendente, por ele escolhido, já ela tomara banho e escovara os seus cabelos de oiro. Disse-lhe que dissesse ao pai que ela ia já. Tirou o mais belo vestido de noiva que atempadamente comprara, vestiu-o e deixou estas linhas ao pai:

“Não posso, meu pai; dormir com um homem com os sentidos e o pensamento noutro.

Meu pai, perdoe a sua filha.”

Tomou dois frascos de comprimidos e entregou-se ao seu amor.

“Esta quase, meu amor. Meu querido, recebe a tua mulher”

Deitou-se e aquele espírito inquieto, sossegou finalmente.

 

Vêem esse homem tão pálido e tão triste? Desceu ao Inferno!”

 

Depois os acontecimentos precipitaram-se. A morte dela abriu a porta do conhecimento à mãe que corria os imensos corredores daquela enorme mansão, abrindo todas as portas procurando a filha.

A filha que nunca escutara, nunca aconselhara, nunca ajudara. A vulnerabilidade desamparada.

“Oh! Vem meu bebé. Onde estás, meu amor? Vem! Vem à mamã!”

Se à mãe a morte da infeliz criança entreabrira as portas da consciência, ao pai escancarara-as com estrondo. A sua filha, a sua menina, a mais bela flor do mais perfumado jardim, onde estava? Deus Santíssimo! E ele?! Desgraçado de si mesmo. Que fizera? Que fizera ele à menina que deveria proteger, guardar, amar! A sua menina que trouxera nos braços de pequenina, rindo para si confiante nos braços que não a deixariam cair. A filha que todo o pai se orgulharia de ter. Deus! Agrilhoara-lhe a exuberância antes de lhe roubar a vida.

Três dias depois, uns negros que passavam por ali, encontraram no meio do mato o corpo pendurado a mais de cinco quilómetros de casa. Mero acaso. Os grandes pássaros volteando em círculos no céu, despertaram-lhes a curiosidade de investigação para algo comestível cá em baixo. Encontraram não para eles, mas para os corvos que já o tinham tornado quase irreconhecível.

Isto era o que se sabia, que se contava e se aceitava, quanto a mim com algum cepticismo, já para não dizer com dúvidas sobremaneira consideráveis.

Era verdade sim que uma rapariga reprimida por uma educação retrógrada e exagerada se suicidara por o namorado ter morrido na guerra, que a mãe enlouquecera e o pai se suicidara também por não suportar o desgosto, mas por que motivo depois de morta se andaria a passear de noite numa estrada sujeita a ser atropelada e a quinar de novo? Afinal, todos falavam mas nunca ninguém a vira. Ou não era verdade?

Colegas meus, e eu próprio, quantas vezes nesses quase dois anos de trabalhos não passáramos de noite nessa estrada e nunca a víramos? Ou era mentira?

Está bem que não podia assegurar com certeza fidedigna se eram ou não noites de sexta-feira, mas em tantas vezes algumas teriam calhado, ora essa. Ou… só há um mês de Agosto por ano e esse só comporta quatro ou cinco sextas-feiras. E teria, porventura, nunca ter calhado?

Não! Se não calhou a mim calhou a quaisquer outros e nunca nenhum veio dizer. Enfim, tinha de se falar de alguma coisa, não era’

Aliás, nem se falava. Tinha sido tema badalado até a exaustão, mas só no principio enquanto era novidade. Agora quase dois anos após todo o mundo estava mais empenhado em saber se o Benfica ia ou não voltar a ser campeão europeu.

Ia lá agora passear-se à meia-noite pela estrada. Pois sim! Ia, então não ia, coração!

Na última sexta-feira do mês de Agosto de 1973, com os trabalhos praticamente no seu término, eu deveria trabalhar o turno da noite, mas o equipamento avariou no turno anterior e eu fiquei livre e mais contente que um pássaro após ter cativado a passarinha para o ninho. Ia fazer uma surpresa daquelas à minha mulher que só me esperava no dia seguinte. Meti-me no carro, desci os dois quilómetros da estrada de acesso ao acampamento, entrei na estrada Benguela Lobito , virei à direita para o Lobito e carreguei no prego.

Eram aproximadamente dez horas de uma noite particularmente escura.

 

 

Continua....

 

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