Máquina do tempo
Há uns dias voltei atrás no tempo.... daquelas viagens que volta e meia fazemos mesmo sem querer.
Quando eu era mais pequena era uma criança popular na escola, no entanto, era perseguida por uma miúda bem mais velha do que eu, e com idade suficiente para me deixar em paz! O problema é que era minha vizinha. Qual a causa da perseguição?
Simples. O tamanho das minhas orelhas...
Tal como já falei por aqui o meu cabelo é género "pêlo de rato" e com umas orelhas um pouco maiores que o normal elas acabavam por aparecer entre o cabelo.
Ela chegou ao ponto de pichar o muro da minha casa com desenhos de bonecos de orelhas enormes! Isto foi o suficiente para me aterrorizar durante uns bons tempos. E eu não dizia quem era, apesar de o saber.
Ela acabou por parar quando finalmente, cansada, acabei por dizer à minha mãe quem era a autora dos desenhos, dos meus choros e da minha raiva contra as minhas orelhas. Como era vizinha uma boa conversa com a mãe dela travou as suas acções.
Fui crescendo e apesar de não ser propriamente dotada para as actividades físicas, não era considerada uma totó, mesmo sendo uma das melhores alunas da turma. Isto até ao 6º ano, a partir daí complicou-se. A mudança para o Liceu trouxe-me alguns dissabores. Primeiro, da minha turma só duas raparigas é que foram para ali estudar. E eu acabei por arranjar amizade com uma moça mais calma de outra aldeia. Mais caladas e reservadas acabámos por ser a brincadeira preferida de alunos mais velhos, a Nôr, do 9º ano, e o seu irmão mais velho ainda, que por acaso frequentavam o mesmo transporte escolar que eu e até viviam mesma aldeia. Tinha que os aturar todo o santo caminho! Para lá e para cá.... No início ainda respondia, o que foi pior, depois calava. Claro que chegava a casa super nervosa e às vezes o choro era a minha escapatória. A minha mãe não soube, mais uma vez, o nome do meu medo. Sim. Destes dois eu tinha pavor! Chegava a ter pesadelos.
Foi aliviando quando comecei a repartir o gozo com outro rapaz que também frequentava o mesmo transporte escolar. Éramos o divertimento preferido deles...
Tinham uma característica interessante, eram maus alunos, amigos da farra, não se importavam com as aulas e iam sendo populares. Nós éramos o oposto, bons alunos as conversas eram sobre livros e temas mais científicos. Mas quase nem falávamos todo o caminho com medo se sermos gozados. Quando transitamos para o 8º ano, e a Nôr continuava no 9º, o gozo diminuiu de intensidade. E cessou completamente quando passamos nós, os marrões, para o 9º. E a Nôr percebeu que ia ser ultrapassada não tardava nada. E claro que foi!
O facto de ser tímida. Sim, eu era tímida. Corar por tudo e por nada, gostar de ler, de estudar e estar calada era óptimo para os que gostavam de se evidenciar gozando os outros.
O interessante é que este tipo de atitudes e este género de pessoas ainda existem por aí aos tombos. Tendo a sua piada aproveitam-na para captar os outros e com isso vão gozando este e aquele. E há sempre quem se ria não percebendo que com isso pode ferir sentimentos alheios. Caramba será assim tão difícil colocar-mo-nos no lugar do outro?
E assim, observando determinadas atitudes, parece que entro na máquina do tempo....