O cérebro humano continua a ser-nos desconhecido. Julgo que sabemos mais sobre o infinito Universo do que sobre os infinitos processos cerebrais. A doença que afete o mental, mesmo em pleno Séc. XXI, é olhada de lado e muitas vezes fingimos que não existe, e outras tantas têm-se medo que seja contagiosa.
No Hospital o serviço de psiquiatria é o parente pobre dos serviços, aquele cuja administração preferia apagar do quadro.
Não fazendo parte das perturbações psiquiátricas, mas tendo alterações comportamentais como estas, encontram-se as demências, algo que beira a loucura sem sê-lo.
Ter uma pessoa com demência na família é como fazer o luto de alguém que ainda respira mas cuja essência já pereceu há muito. O corpo realmente é um mero invólucro, e assim que a mente deixa de funcionar de pouco nos serve.
O meu pai é uma dessas criaturas humanas… Saber que a pessoa que tenho ali já não é o meu pai dói. E dói mais ainda ver como ele está perturbado, agitado e, demasiadas vezes, com um olhar de pleno sofrimento... talvez algo em si lute, ainda, contra o precipício em que se vê cair, mas cada vez mais a queda se acentua.
Estar com ele é uma tortura. Não existe um diálogo coerente, mas ele ainda me reconhece como filha. Uma filha que lhe diz como comer, que lhe diz para não falar de boca cheia, para mastigar e engolir antes de tornar a enfiar qualquer coisa à boca, que lhe diz como andar, como vestir, como se comportar… perdeu completamente a desinibição social. Despe-se à frente de qualquer um e até no meio do salão se por acaso lhe parecer que o deve fazer. E é interessante como aquela pessoa que nunca tinha uma palavra carinhosa agora não se cansa de dizer que nos ama. Verificar como ele, que pouco falava, agora tem sempre a “turbina” ligada! Mesmo que não se entenda o que ele diz, ele fala, e fala, e fala para nada dizer… A guerra colonial, essa maltida, é o seu tema preferido.
E lembro-me do primeiro internamento que ele teve, em que a desconfiança da sua perda pairava no ar. Ele percebeu que a sua ruína estava próxima e tentou terminar com o sofrimento. Um espelho partido no quarto de banho, um corte certeiro no pulso, mas não foi o suficiente… e a sua não vida prolonga-se sem saber como nem para onde.
Adoro adormecer com festinhas na cabeça, o tão conhecido "Cafuné". Que dito em brasileiro até ganha uma dimensão diferente!
Um destes dias adormeceram-me com um majestoso e querido cafuné, mas eis que a mão, que outrora me afagava, dá um autêntico estremeção e tenta levar-me o escalpe!!! Estão a imaginar alguém que adormeceu doce e candidamente ser acordada assim?
Ora isso leva-me a um processo de investigação exaustivo sobre a causa destes estremeções, tão frequentes pelo meu par de vida e com quem eu partilho o leito! A coisa chega a ser de tal ordem que se pode pensar que está a acontecer um tremor de terra! A sério?
E cheguei a algumas conclusões interessantes que resolvi partilhar. Não se vá dar o caso de quererem adormecer com cafunés e não estarem preparados para ficarem sem alguns cabelos!
Não sei se já aconteceu a alguém estar a adormecer ter a sensação que vai a cair, a seguir dá um esticão valente e acorda! A partir daí o nosso sono é um pouco mais “leve”, temos a noção, consciência, que estamos a dormir, e se sonharmos lembramo-nos do que estamos a sonhar. Este estado tem um nome estranho, chama-se estado hipnagógico. Eta nominho esquisito, Heim? (É! Hoje tou meia abrasileirada). O nominho deriva do grego "hypnos" - sono + "agogôs" induzido. Ao que perece este "estado" tem uma incidência que varia de pessoa para pessoa (eu tive a sorte de calhar com a incidência toda ao meu lado) sendo até mais comum nas crianças! Ele há cada coisa!! Hã?
Fisiologicamente falando, este é um estado intermediário entre a vigília e o sono. O corpo não está completamente desperto mas também não está completamente adormecido. Há até quem o vivencie de uma forma algo estranha no qual não consegue mover um único músculo do corpo mas tem consciência disso. Há outros que têm a tal sensação de que vão a cair e estremecem assustadoramente. Já me aconteceu. Mas felizmente não estava com a mão na cabeça de ninguém.
E claro! Há sempre alguém a aproveitar-se do "estado hipanagógico" e a arranjar-lhe utilidade. Uns dizem que é uma projeção do corpo em relação à mente, e falam até em projectologia e coisas esotéricas como fronteira astral ou viagem astral.
Outros ainda dizem que é uma altura para ter as melhores ideias e visões nesses momentos, uma vez que se tem acesso a informação do consciente e do inconsciente, já que nem se está acordado nem a dormir. E existem até nomes sonantes da história que usaram a hipnagogia dessa forma para conseguirem inspiração! Um deles é Salvador Dali, um artista famoso espanhol, que se inspirava nas visões (sonhos) que tinha durante o estado hipnagógico para pintar os seus quadros.
E olhando para uma das imagens das telas de Dali tento perceber o que ia naquele consciente e sobretudo no inconsciente... mas não sei se quero conseguir!!!
Eu sei que internauticado não existe, mas a linguagem vai crescendo e novas palavras vão surgindo. Afinal só estou a usar as capacidades do meu cérebro, antes que ele se baralhe de tanta internet, embora ache que não sou das que corre mais riscos....
Segundo um senhor chamado Nicholas Carr a internet está a alterar de tal forma o nosso cérebro que pode chegar a reduzir a nossa capacidade de armazenar memórias a curto prazo. Este senhor já lançou um livro sobre o assunto "The Shaollows" e, apesar do que diz, é um manifesto bloguer.
Ele interessou-se pelo tema quando se apercebeu que algo estava a mudar na forma como estruturava o pensamento numa altura em que usava muito o computador. Começou a perder capacidade de concentração, sentia que a mente não queria prestar atenção e que queria comportar-se como se ele estivesse no computador, mesmo quando este estava desligado, o seu cérebro queria saltar de um link para o outro, ir ao google, consultar o e-mail, twittar ou ver se alguém já comentou no blogue. Estas alterações levaram-no a investigar de que forma o cérebro reagia a este avanço da tecnologia e a estas multitarefas.
Em suma, no estudo ele verificou que à medida que nos habituamos a ter todas as informações disponíveis à distância de um "clic", o cérebro torna-se preguiçoso em criar memórias internas. Afinal é preguiçoso mas não é estúpido!
A capacidade de armazenamento da memória altera-se e uma dessas razões é porque não precisamos de o fazer, afinal basta "googlar". Mas a preguiça pode sair cara!! Uma vez que a profundidade do nosso conhecimento e o nosso intelecto dependem da capacidade de formar memórias a longo prazo, pois são elas que estabelecem ligação a novas informações, a tudo o que aprendemos, a experiências e até a emoções. Estas ligações são a chave do conhecimento e do pensamento crítico... Querem preguiça? Não dá! O cérebro precisa de exercício!
E agora a estocada final! Os estudantes, habituados a estas lides googlistícas (estou em forma :)), Facebook, Twitter, E-mail, .... fixam melhor o "onde" do que "o quê". Lembram-se mais dos sítios onde encontram informação do que dela própria.
Ou seja daqui a uns dias quem aqui vier lembra-se do "Eu tento, mas o meu tento não consegue" e não fazem a mais pequena ideia do que eu estive aqui a desbobinar!!