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Eu tento, mas meu tento não consegue!

Sabendo que nem sempre vou conseguir ir aos vossos espaços, mas nunca vos esquecendo e sempre tentando...

Eu tento, mas meu tento não consegue!

Sabendo que nem sempre vou conseguir ir aos vossos espaços, mas nunca vos esquecendo e sempre tentando...

Histórias na primeira pessoa

Lembro-me das histórias de meu avô, lembro-me como se fosse hoje...

 

"-Sabes, no meu tempo tínhamos que nos levantar de madrugada, muito antes do sol nascer. Devia ter eu uns 9 anos e já ia com as cabras e as ovelhas para o monte, ajudava os meus pais e mais já ajudava na lavoura como gente grande! Trabalhei sempre, andei sempre! Tínhamos muitos terrenos, felizmente, isto estava tudo cultivadinho!!

-Então e a escola?

- A escola? Tínhamos lá tempo para a escola! A minha mãe queria que eu fizesse ao menos até à quarta classe, mas eu gostava era de andar livre, depois de andar no monte tanto tempo dava-me lá sentado numa cadeira?

- Mas eu gosto tanto da escola! E nós brincamos muito e é bom fazer amigos! Não tinha amigos?

- Tinha pois! Trabalhavam tanto ou mais que eu! Alguns tinham a sorte de ter mais um jeitito prá'quilo, ou até lhes puxava pra aprender e muitos tinham família mais abastada em que não era preciso que trabalhassem. Eram finos esses! Usavam sapatos e roupinha de missa todos os dias!

Mas tu? Tu estuda! Aproveita e estuda pra seres alguém! Eu deixo-vos todos os terrenos que amealhei. Mas o que eu sonhava era que vocês fossem alguém. Alguém que não soubesse só assinar o nome e pouco mais.

- Mas eu já sei mais do que assinar o nome!

- Pois... mas isso não chega! Ou achas que sim? Depois há os espertos, aqueles gajos que tentam sempre enganar a gente! Se não somos lestos a pensar levamos com os chicos espertos e com as suas trafulhas!

- Está bem avô, eu esforço-me, aliás eu gosto de aprender e de estudar.

- Fazes bem minha filha! Nesta vida nada se consegue sem esforço, e se assim for que piada e história de vida tem? Sabes onde eu tenho a história?

- Onde avô?

E estendia as mãos, rudes, com um ou outro dedo entortado.

- Em cada calo, em cada ferida que aqui vês!

E eu olhava, para aquelas mãos com história...

- E avô, quem não tinha terras como fazia?

- Oh! Esses coitados, tiveram que sair cedo daqui, ir para longe de tudo o que conheciam... e saiam assim eram catraios! Sabe-se lá pelo que passaram!!! Emigravam! Às vezes até tinham alguma sorte, depois de muita e dura labuta, mas passaram vida de cão! Eu nunca precisei de sair daqui! E não trocava a minha terra por nada!

Ficava assim com o seu olhar distante...

- A fome que havia naquele tempo! Tempos maus, que espero que nunca voltem! Que não voltem daquela maneira. Nem que vejas os teus filhos passarem por dificuldades! Agora felizmente todos vão à escola, ainda bem! A mim deviam-me ter obrigado a ficar lá. Mas fazia falta no campo... e eu não gostava daquilo, nem da professora que dava reguadas que se fartava, a doida!

- Avô não fique triste, somos um povo valente! Não é o que diz? Um povo valente que já lutou muito, pode lá ser voltarmos para trás e deixar tudo aquilo que vocês passaram ser em vão!?! Avô agora as crianças têm que ir à escola!" (Ligação para notícia no J.Público)

 

Pois é avô, o que eu tento lembrar-me para que serviram cada uma das histórias de tua mão rude, mas ao mesmo tempo meiga, calejada e poderosa.

 

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