No aconchego do meu útero.
O tema sobre a legalização das chamadas "barrigas de aluguer", por razões de saúde, foi discutido hoje no Fórum da TSF e também está em discussão no nosso parlamento.
Também este tema já foi falado em muitos blogues, muitos dos quais sigo. Hoje ao ouvir o Fórum na minha cabeça fervilhavam dúvidas, questões, ética, e até algum repúdio por algumas das ideias dos ouvintes, ideias essas que ouço volta e meia em qualquer lugar.
Eu entendo, compreendo e aceito este, e qualquer tipo de escolha para se ter um filho, embora me cause uma certa confusão, em termos de questões éticas que possam daí advir. Mas eu nunca estive na situação de não poder ter um filho, eu não sei o que é passar por essa angústia, e nessa altura todas as questões éticas se tornarão pequenas, dependendo claro, de cada pessoa e da forma como ela quer encarar o mundo. Aprendi que "NUNCA", é uma palavra muito forte para ser aplicada em todas as questões, e aprendi que existem certas situações que nos fogem ao controle.
O que não gosto é de coisas feitas "por trás da cortina", de negócios obscuros, e que se use o dinheiro de forma suja aproveitando uma situação que não deveria ser encarada dessa forma.
Como tal, é sim, pertinente a discussão de uma legalização. Porque não? Muitas são as vozes que se insurgiram contra este tema dizendo que o País está em crise. O País está em crise. E agora? Paramos o resto?
Ficamos tolinhos se não pensarmos em mais nada!
O tema é pois sensível, e por várias vezes me fui imaginando nos vários papéis que o protagonizam. Imaginei-me no papel do casal, que recorre a este tipo de situação para poderem ter um filho. Imaginei-me no lugar da mulher que "empresta o aconchego seu útero", e claro imaginei-me na posição da criança, no adulto que se transformará, e o que sentirá ao saber (se isso chegar a acontecer) que foi gerado em outro ventre que não o da sua mãe.
Como casal, aqui tenho que dizer que para mim casal inclui duas pessoas que se amam, sejam eles hetero ou homossexuais (ao contrário do que ouvi em algumas pessoas, onde o preconceito é marcado), continuando, como casal o desejo de ter um filho deve ser muito forte para que se decidam por esta via, sabendo que este processo pode trazer algumas questões mentais, com as quais não contam, por parte da mulher que cede o "útero aconchegante". O casal vê esta via como a hipótese de ter um filho com a sua informação genética. Um filho que pensam ser seu na "totalidade". Provavelmente não querem adotar. Nem todas as pessoas o querem fazer, e isso é um direito que lhes assiste. E mais vale que deixem claro essa postura para que depois não ocorram as infelizes "devoluções". Certamente esta foi uma escolha muito ponderada e pensada pelo casal, mas não deixam de correr riscos. Mas a vida é toda ela um risco!
Quanto ao papel do "útero aconchegante", prefiro chamar-lhe assim, pois a palavra "aluguer" lembra-me o pagamento de renda, e este processo para mim deveria ser gratuito e até altruísta, marcadamente altruísta! Maternidade de substituição, também é um nome interessante mas continuo a preferir o meu "útero aconchegante", é mais intimista, e todo este assunto requer que o seja. Este papel é difícil! Só quem já esteve grávida o entende. Entende o que é sentir uma vida a crescer dentro de nós, sentir que se mexe quando o estimulamos, que se acalma quando lhe falamos, que vive dentro de nós e por nós! Deve ser difícil e tortuoso deixar partir essa vida, que foi só nossa durante 9 meses. Pois... aí entra o tal altruísmo. Pus-me a pensar se seria capaz de recusar um pedido de um irmão meu deste calibre. Se ele me pedisse para ter o seu filho? Para o abrigar no meu útero? Dizendo-me que era a sua mais forte vontade, e que a saúde os abandonou neste momento. Não sei o que responderia....
Será menos mãe aquela que cede o seu útero?
Será menos mãe aquela que embala o novo ser no seu ventre?
O papel da criança, do adulto, que será fruto de um útero que não o da sua mãe, este levou-me a duas situações hipotéticas;
O "útero aconchegante" pertence a alguém da sua família e inevitavelmente essa pessoa passaria a ser olhada, por mim, pela adulta que sou, com outros olhos, passaria a vê-la como a "primeira mãe" (se é que isto existe), a música que ouvi pela primeira vez teria sido a de seu coração! As primeiras sensações teriam sido no seu ventre. Sim! Seria uma primeira mãe. E esta conclusão leva-me à segunda hipótese, se o útero que me embalou não fosse de ninguém da família eu quereria saber de quem foi!
O meu tento fica assim, com muitas tentativas... sem grandes conclusões e com muitas dúvidas e uma certeza. O útero é um local aconchegante e um abrigo de oiro , podendo, ou não, aconchegar outro ser que não tem a mesma informação genética e sabendo que aquela vida será sempre um pouco sua!