É feitiço?
continuação daqui
- Menina Isabel por favor coma mais alguma coisa! – Suplicava-lhe Mariana ao arrumar-lhe a bandeja do pequeno-almoço.
- Desculpe Mariana mas hoje não consigo mesmo engolir mais nada – E saiu para cavalgar, a única atividade que, de facto, lhe trazia alguma serenidade à alma atormentada.
- A menina ainda vai ficar doente! Ouça o que lhe digo! Já nem se lhe vêem as cores das faces!!!
Isabel já quase nem ouviu a última frase. E se ficasse doente pouco lhe importava. Afinal para quem iria fazer falta?
Estava casada há quase um ano e Afonso nunca lhe tocara! Tentara deixar que a camisa de noite mostrasse mais do que devia parecendo que fora inadvertido. Aplicou o seu charme feminino, como qualquer dama sabia tão bem fazer, sem surtir qualquer efeito… tudo sem obter qualquer reação! O seu marido parecia feito de gelo!
Porque a rejeitaria ele desta forma?
Ela sabia olhar-se ao espelho, não era feia! Mas afinal o que é que ela tinha, ou não tinha, que o impedia de se aproximar?
Fora do quarto a relação deles evoluíra agradavelmente. Falavam e discutiam, sobre diversos temas. Pôde constatar que afinal Afonso era um espírito livre, que respeitava a opinião feminina.
Será? Será que o seu marido não era dado a intimidades com damas?
Ou será que seriam outras as damas a desfrutar da sua intimidade?
Calar todas estas dúvidas e toda esta ansiedade motivava-lhe um grande nó no estômago! Como ia confessar a alguém que estava casada há tanto tempo e ainda era casta?
- Olá miúda! Acho que se escovares mais o teu cavalo ainda lhe cai o pêlo!
Ao virar a cabeça Isabel deu com a face de Sofia. A filha do Sr. Joaquim, o “dono da estrebaria”, como ele se auto denominava. Sofia era a melhor amiga de Isabel, tinham a mesma idade e fora Sofia quem lhe dera mais alento, com as doces brincadeiras infantis, aquando a sua vinda para um país diferente. Além disso, e vendo a amizade que as unia, Sr.ª D.ª Margarida, agora sua sogra, permitiu que Sofia tivesse a mesma instrução que Isabel, o que permitia às duas jovens ter muito em comum.
- Tens razão. Se calhar já chega… estava tão absorvida pelos pensamentos que nem percebi que já estava mais que bem escovado! Mas aqui o menino Érix parece que estava a gostar da massagem extra!
- Isabel – disse Sofia aproximando-se – o que se passa contigo?
Sem olhar para a amiga Isabel ia conduzindo Érix para o local que lhe estava destinado.
- Que se passa como?
- Não te faças desentendida! Sei que se passa algo! Conheço-te melhor que ninguém. E se queres que te diga nem seria preciso isso! Basta estar com o mínimo atenção ao olhar para ti! Estás mais magra, com ar abatido e até parece que as cores de estão a fugir das faces!
Isabel sorriu. Encontrava-se já ao lado de Sofia. – Ainda hoje a Mariana me disse isso, das cores das faces, ao pequeno-almoço!...
Sofia cortou logo – Claro! Nota-se à distância! – e como que adivinhando – O problema é o Afonso? Mas parece que até são amigos ao contrário do que se fazia prever.
Isabel suspirou. Estava cansada…
- Sim. Somos apenas amigos. – Deu uma ênfase propositada ao “apenas”
- Huh! O que queres tu dizer com isso?!
- Esquece Sofia! Tens razão, não devo estar bem!
- Não, não e não! Fazes o favor de me dizer! Só quero o teu bem. Já há muito tempo que arranjo coragem para te falar nisto, pois não me queria intrometer na tua vida intima mas agora deixaste-me com a pulga atrás da orelha!
Isabel voltou a suspirar. Talvez fosse bom desabafar.
- Está bem.Ganhaste. Mas, por favor, vamos até tua casa que a esta hora não corremos o risco de ser interrompidas. É que tenho medo dos ouvidos que as paredes do casarão possam ter.
- Medo? Bem… agora estou preocupada.
Apressaram o passo. Já sentadas a beber uma caneca de chá quente que Sofia fizera, esta insistiu.
- Conta Isabel. Precisas colocar para fora o teu medo.
Isabel encheu os pulmões de ar, como de isso renovasse a coragem que entretanto lhe falhara.
- Sabes… bem… eu e Afonso...nunca tivemos nenhuma intimidade na cama…
Sofia olhava estupefacta para a amiga como se não tivesse percebido, ou ouvido, bem.
- Não tiveram intimidade? Quer dizer que nunca…?
- Não… - enrubescendo e baixando o olhar, Isabel responde.
- Não percebo! Mas afinal que se passa com esse doido do Afonso!? Esse rapaz só pode ser louco! Eu logo vi que isto não ia dar certo depois daquela cena na Igreja! Mas isto? Quem esperava por isto! Que é que ele quer? Teve uma bela mulher oferecida de bandeja! E agora? Será que quer que lhe esfregue na cara que ele é um burro Eunuco?! E se porventura tem outra mulher só merece ficar! – Sofia estava furiosa e no seu ímpeto, que lhe era habitual, bradava o que lhe ia no pensamento. Parou de o fazer assim que viu que Isabel chorava copiosamente, e abraçando-a, afiançou.
- Tem calma Isabel. Eu ajudo-te a resolver isto! Ele não pode fazer de ti gato-sapato! Nem desprezar-te! Não sabe o que o espera!
Isabel não fazia ideia ao que a amiga se referia mas pelo menos desabafou.
Continua…
(brincadeirinha! Continuo aqui abaixo)
Dois dias se seguiram a esta conversa de amigas, e hoje, ainda mal o sol se levantara, já Isabel estava no estábulo montada em Érix e aguardava que Sofia a levasse para um destino misterioso que, segundo ela, a ajudaria.
Afonso ainda dormia quando deixara os aposentos que dividiam.
- Vamos Isabel – Surgiu Sofia montada numa meiga égua, tomando a dianteira para que esta a seguisse.
Já a manhã ia a meio pararam um pouco para descansarem e os cavalos tomarem algum fôlego.
- Para onde vamos? – Inquiria Isabel cada vez mais curiosa.
- Vamos a uma aldeia, agora não muito longe daqui, que tem uma mulher que pratica… hummm… alguns encantamentos e mezinhas.
- Estás maluca!? Vais levar-me a uma feiticeira?! Eu não preciso de bruxarias! Só preciso que Afonso me deseje como mulher! – Isabel já se começava a arrepender de ter confiado em Sofia
- Sossega. Não é uma bruxa. É apenas alguém que tem mais conhecimentos, e que sabe o que fazer com algumas plantas. Não te apoquentes que vai tudo correr bem. Se estás preocupada que te reconheçam colocas o capuz da capa que ninguém te descobre! Além disso, que tens a perder? Mal não faz! Não mais mal do que o burro do Afonsinho te está a fazer – Disse com desdém estas últimas palavras.
Isabel encolheu os ombros. A verdade é que já estava por tudo. Já ouvira tantas histórias sobre estas mulheres que entendiam que artes misteriosas, e que muitos achavam que foram a solução de vários males. No seu caso, revelava-se um desespero da causa.
Chegavam ao bairro judeu onde habitava a tal mulher, que dava pelo nome Mohan. A casa, caiada de branco, onde habitava ficava no cimo de uma colina e estava rodeada de plantas, algumas de aspeto exótico. Desceram dos cavalos e bateram à porta. Surgiu então uma senhora septuagenária tão agradável quanto amável. Muito baixa, olhos verde água, que com umas mãos muito enrugadas endireitava o lenço que lhe cobria os cabelos cinzentos. Convidou-as a entrar numa cozinha de limpa, solarenga, onde crepitava um fogo convidativo na lareira rodeada de potes de cozinha de vários tamanhos. Um odor doce e agradável as rodeava.
- Posso oferecer-vos algo para beber minhas meninas jovens e lindas, enquanto me dizem a que vieram? - Dizia-lhes ao mesmo tempo que as conduzia para um banco junto à lareira.
Enquanto sorviam a bebericagem, quente e suave, Sofia contava o motivo pelo qual se encontravam ali. Isabel permanecia muda, apenas assentia ao que era descrito.
- Pois bem. Acho que já percebi tudo. E penso ter o que necessitam. Volto já, fiquem à vontade.
Sofia deu uma cotovelada numa Isabel ansiosa e retorquiu.
- Vês minha tola! Experimentas o que ela disser e logo vês.
Mohan depressa reapareceu trazendo um pequeno frasco em mãos.
- Aqui têm. Basta que misturem isto com algo que o seu marido costume beber antes de se deitar e resultará. Ele a verá com outro olhar. Tornar-se-á certamente um homem cheio de viço para consigo! Seja o que for que se passa desaparecerá.
Isabel acautelou o frasco e o importante líquido que continha e seguiram, quase, em silêncio de volta a casa.
À despedida Sofia relembrou o que deveria ser feito, e atentou para que Isabel prometesse que cumpria sem receios os propósitos daquela pequena viagem.
Ao final da tarde puderam contar com a visita de Lúcio, que nos últimos tempos surgia com regularidade, embora parecesse que a relação entre ele e Afonso já tivera melhores dias. Ultimamente não era raro apanha-los em discussão acalorada por "dá cá aquela palha". Após ter deliciado todos com uma pequena interpretação ao piano, e a um breve jogo de cartas, Isabel, dando a desculpa de sentir cansada e querer acabar uma leitura que necessitava de mais concentração, recolheu-se para a sua sala de estar particular sendo seguida, para sua surpresa, por Afonso.
Pensando bem era a oportunidade perfeita! A caminho do aposento Isabel perguntou a Afonso se desejava que pedisse a Mariana para fazer-lhes um chá, talvez assim até dormissem melhor.
Afonso assentiu.
Isabel retirou de seu colo o pequeno frasco que apertou entre os dedos.
-É agora! – Pensou
E verteu o líquido na chávena destinada ao marido. Ela própria insistiu em levar o tabuleiro, o que não era uma atitude estranha da sua parte pois não era nada dada a elitismos, e não era a primeira vez que executava simples tarefa.
Afonso encontrava-se sentado num cadeirão a ler um livro quando Isabel entrou, pousou o tabuleiro e se dirigiu a Afonso com o líquido quente nas mãos.
- Obrigada Isabel - Sorriu-lhe de volta – Até me estava mesmo a apetecer um chá! Principalmente depois de falares nele! – Afonso olhou-a intensamente, como nunca o fez, o que lhe causou um arrepio.
Trémula, pelo efeito daquele olhar, dirigiu-se ao quarto de vestir com a sua chávena dizendo que iria trocar de roupa e seguiria para o quarto. Com um ligeiro aceno de cabeça, e a chávena e pires nas mãos, sem ainda terem tocado os seus lábios, Afonso laçou-lhe um novo olhar. Quente. Intenso. Como se a despisse ele próprio sem que ela precisasse de sair dali!
Mas afinal que se passa com ele? Será que aquilo era tão potente que só o odor o afetara?
Não. Mohan tinha dito que precisava de ser bebido!
Nesse mesmo instante Isabel sentiu Afonso imediatamente atrás de si. Ela ia falar-lhe mas ele deteve-a com um beijo ardente que lhe fez doer o fundo do ventre. Olharam-se, breve e intensamente, e voltaram a beijar-se demorada e sofregamente. Como se a vida deles dependesse daquele beijo! Isabel sentia que Afonso lhe desabotoava o vestido e num nada estava em combinação à sua frente, ajudando-o também a ele a despojar-se das suas vestes. Sentiu-lhe a língua quente, húmida, a tremer desejo, percorrer-lhe a pele do pescoço a descer-lhe pelo colo e a demorar-se em seus seios, percorrendo-os, levando-a a um deleite que julgava não existir! Deixou que a despisse assim… sendo beijada e molhada pela sua língua atrevida e trémula.
Ele deslocara-se para trás dela e sentou-a em seu colo enquanto ele próprio se sentava numa chaise do quarto de vestir. Afagava-lhe os bicos do peito com uma mão levando a emitir sons de puro prazer, enquanto levava outra mão até lá, onde algo parecia ter estado preso e quereria agora soltar-se em todo o seu fervor.
Finalmente sentiam-se um só, num puro êxtase! Num puro prazer. Parecia que o mundo rodopiava e terminara para voltar a surgir mais colorido. Após se terem acalmado, Afonso embrulhara-a num roupão e levara-a ao colo para o quarto. Para, no leito, voltarem a repetir a união orgástica.
Já ia alta a noite quando Isabel, meia dorida, se levantava acometida de uma sede intensa. Deslocara-se até à sala de estar, contígua ao quarto, com a finalidade de encontrar algo que lhe saciasse a boca seca. Quando, com espanto, pôde verificar que a chávena de chá que tinha levado, horas antes, a Afonso, com o líquido que ela julgara ser o causador do delito das cenas de paixão que acabara de viver, se encontrava intacto!
- Mas então se não fora o líquido mágico…? Fora ela!?! E só ela que o levara a ser tão arrebatador na demonstração do seu desejo! – Pensava Isabel sorrindo, e esquecendo-se da sede acordando Afonso com um beijo libidinoso, muito longe de ser a jovem virginal que fora até hoje.
Agora sim, continua….
Sim. Há mais para continuar!