Natal perdido no tempo
Hoje, e ao contrário do que é usual, sou acordada pelo meu pai.
-O que se passa?! Pergunto com ar assustado e estremunhado.
-Nada! Só que hoje vais comigo buscar o Pinheiro de Natal! Veste-te rápido e toma o pequeno-almoço. Em meia hora saímos.
Claro que ele sabia que meia hora não chegava…
Passada uma hora estava pronta e bem agasalhada. Lá fora esperava-nos um céu cinzento claro e um dia frio.
A marcha começou para a floresta onde o meu pai pretendia “chacinar” um pinheirito jovem que não veria mais a luz do sol, mas que se iria orgulhar de brilhar com luzes Natalícias durante 3 semanas.
A caminho do “Lago”, o terreno que era do meu avô, e onde cresciam alguns Pinheiros, eu imaginava uma família dessas árvores sem esperarem que um deles se iria embora para sempre! E que em lugar de ocuparem e embelezarem aquela pequena floresta estariam a servir os propósitos de embelezamento Natalício de alguém.
Quem inventou essa do Pinheiro? Há muitos Carvalhos por aí! Escolham um e deixem-nos em paz!
Pois meus queridos, mas vós sois mais bonitos e ficais lindos com enfeites e luzes a piscar! Além disso, podeis ver algo diferente, alegre, divertido e feliz! Qual é o Pinheiro que não sonha em ser a árvore de Natal de duas crianças e fazê-las sorrir todas as manhãs? Hã?
E não esqueçam que está para aí a moda das árvores de Natal artificias, não tarda nada sereis deixados em paz. Por isso desfrutai enquanto é tempo!
Por fim, chegamos ao que meu pai dizia ser o Lago, sem lago e com Pinheiros. Escolhemos… escolhemos. Um muito pequeno. Esse não! Outro torto. É que nem pensar! Outro ainda com a copa larga de mais. Eis que surge o perfeito! Ali escondido pensava que escapava! Malandro! Anda daí. Já!
O céu cinzento claro desceu até nós e traz um nevoeiro cerrado. Meu pai, com o Pinheiro perfeito às costas, dá voltas e mais voltas. Percorremos mais caminho de volta a casa do que para encontrar o Pinheiro perfeito!
- Olhe lá pai, não estamos perdidos?
- Não! Achas que me perdia? Já andei muito por aqui à lenha e às pinhas minha menina!
O certo é que me parece que já passamos por aqui pelo menos três vezes! Se não andamos aos círculos andamos aos quadrados! Mas ninguém me convence que não estamos perdidos…
Apesar do frio vejo gotas de suor no rosto do meu pai. Será um Pinheiro pequeno assim tão pesado?
- Ó pai está a ficar mais escuro… parece que vai anoitecer. Tem a certeza que não estamos perdidos?
- Já te disse que não estamos perdidos! Já voltamos para casa, eu só quis ver como estavam estes terrenos aqui para cima. Tem calma.
Hummm… eu tenho calma ele é que não parece estar muito calmo! Parece suar cada vez mais e com o Pinheiro às costas dá-lhe para passear a estas horas?!!
Derradeiramente noite estendeu-se sobre nós quando pudemos aconchegar-nos ao lume da estufa. Irra que frio!
O Pinheiro espera para amanhã.
Ouço uma conversa de surdina entre meus pais
- Estava mesmo aflito! Não conseguia achar o caminho de volta com aquele nevoeiro todo! E como já não ia para aqueles lados há algum tempo pior foi!
Tcharamm! Eu não disse que estávamos perdidos?!!???