Hoje é um novo dia. As celebrações da praxe passaram, e todos voltam as suas vidinhas como se nunca tivesse existido o Abril de há 41 anos. Como se a democracia fosse algo vulgar e um dado adquirido. Tal como li aqui.
Aliás, noto nos discursos interpretados, e não sentidos, uma ponta de fastio.
Para quê celebrar Abril?
Para quê nos darmos ao trabalho de cantar Zeca Afonso, de ouvir repetidas vezes o que aconteceu ou deixou de acontecer?
Eu digo,
São poucas as vezes que se fala de um povo, o nosso povo, que ainda sofre as consequências da ditadura, e esteve anos sob o jugo desta.
São poucas as vezes que se fala... porque todos tomam a democracia como algo infinito, e meus meninos já vivi tempo suficiente para saber que a vida dá muitas voltas e nada é um dado adquirido. Apenas a morte o é.
São poucas as vezes que lembramos aos nossos apáticos jovens que houve um dia pessoas pro-activas, que lhes deram o que têm hoje. Liberdade! Liberdade de expressão e de decisão!
São poucas as vezes que se fala num povo, que ainda existe, e que tem os seus imensos "quês", cujas decisões o têm levado para buracos fundos. Talvez o buraco tivesse começado com o aproveitamento político que houve aos idealistas no 25 de Abril. E só por isso, são poucas as vezes que se fala para que se pense e se seja mais pro activo. Porque se vota num determinado plano político e se este não é cumprindo o povo deve ter poder de decisão, e não se deixar levar por demagogias por promessas nunca cumpridas. Um povo que parece ainda não saber lutar!
As celebrações parecem e são uma fachada, mas ainda assim fala-se! Canta-se! E mantêm-se os cravos vivos! Porque meus caros, os cravos? Esses também murcham!
Numa semana em que se fez referência a contos de fadas lembrei-me do conto de fadas em que muitos acreditaram.
Existe uma fada Portuguesa com um nome estranho, dá pelo no nome de Passos Coelho. Prometeu com a sua varinha mágica diminuir os impostos e tantas outras coisas que já nem me lembro. Demos por nós a levar com a a varinha mágica no lombo e todas as promessas de um paraíso a desvanecerem-se.
Mas o povo Português acredita muito na magia.
Por exemplo, alguém ainda se lembra das empresas que se aproveitaram de dinheiros Europeus sem desenvolverem os projectos a que se candidataram?
Alguém se lembra daquelas pessoas que se viraram para a agricultura aproveitando-se dos fundos para investir nessa área e fizeram tudo menos fomentar o seu crescimento? O que cresceu foi o dinheiro nos seus bolsos...
Para não falar em economia paralela. Aquele café que tira 500 cafés por dia sem passar fatura e sem declarar o lucro. Aquelas pessoas que alugam quartos a estudantes sem passar fatura e nada de declararem o que ganham. Aquele mecânico que aqui há dias me fazia um preço para fatura e outro sem o fatura (para vossa informação pedi-a! Paguei mais mas ele tem que declarar. É um dever meu.)...
Isto que será mais do que acreditar em fadas?
Acha-se que isto mais cedo ou mais tarde não se paga?
A falta de cidadania paga-se! E muito caro! O problema é que pagam todos!
Porque é que este país não anda para a frente?
Porque se tem a mania que tudo cai do céu! Porque a galinha do vizinho é mais gorda que a minha e há que tentar sacar-lhe a comida. Porque vamos lá meter o nosso ao bolso sem ninguém saber. Porque vamos lá aproveitar-mo-nos dos compadrios. E tantas outras coisinhas simples que somadas dão um grande rolo! O grande rolo em que nos metemos!
Não minha gente. A culpa não é só dos nossos políticos. Que não são flores que se cheirem. A culpa é de todos! A culpa do povo português. E enquanto esse mesmo povo não tiver um pingo de educação cívica, união e sentido de justiça, as coisas continuarão como estão. Na cepa torta! Venha o raio do Governo que vier! Nem que tenha uma bela de uma varinha ela não funcionará!
A manhã foi-me trazida por um Melro que se julga tenor.
Nos seus cânticos ele dizia que hoje se celebrava o dia da liberdade. Oh! Melro sábio!
Sim, ao que parece senhor Melro hoje celebra-se o dia da liberdade, embora, digo-te eu, que isto parece mais uma incelebração. Sabes, agora está muito em moda inventar-se palavras, ao que parece torna-as mais fáceis de aceitar! Por isso, hoje não se celebra, incelebra-se! E porquê?
Porque o sonho de Abril, aquele de há 40 anos, não era só acabar com a ditadura, mas julgo que também era de fazer uma certa "limpeza" política. Livrar-nos de corrupções, aproveitamentos, "factores C", compadrios, e uma série de coisinhas feias e com noves ainda mais feios, alguns até com siglas para se tornarem mais pomposos, coisas modernas.
Pois é senhor Melro, afinal parece que parte do sonho de Abril morreu, e a outra parte está moribunda, já que a troco da crise se vai tirando cada vez mais a quem suadamente ganha o seu pão esperando ganhar um pouco mais. Discute-se de quem é o Abril, quem fala e quem não fala, e os únicos que precisam falar e a quem tiram a voz é ao povo!
Mas a verdade seja dita o povo não parece querer falar. Além disso o povo é que tem escolhido o seu caminho.
Onde está o povo quando vem a público mais uma extorsão escandalosa?
Onde está o povo quando se constrói estádios de futebol para jogos de moscas?
Onde está o povo quando se vota nas urnas?
Onde está o povo quando se obedece cegamente às cólicas dos mercados?
Pois é querido Melro eu também queria tentar saber....
Ffiquemos antes com os teus cânticos que falam de liberdade, de união, de solidariedade, de uma política mais limpa, mas transparente... um sonho portanto.