Acordei estremunhada, pus o pé fora da cama. Tudo estava na mesma. O meu quarto envolto na penumbra matinal, que se traduz pelas portadas da janela fechada, para que as primeiras espriguiçadelas do rei não nos acordem . O odor de uma noite de sono. O silêncio da casa que ainda dorme... tudo estava igual a qualquer manhã. Não! Havia algo diferente... Mas o quê?
Decidida a descobrir resolvi investigar. Desci as escadas, pé ante pé, evitando aquele degrau que resolve gemer sempre que lhe passo em cima, passei pela sala às escuras, abri as persianas que dão para o pátio e o sol inundou-me o olhar! Um dia pintado de primavera!! Era isto? Finalmente um dia com a ansiada primavera? Hummm...também não!
Mas então o que seria?
Ora, vejamos, tudo está nos seus devidos lugares, o que na minha casa quer dizer tudo fora dos sítios pois há crianças a habitá-la ( a bem dizer uma que vale por muitas) e esta é uma casa onde se vive, portanto não se passa nada de anormal com a casa. Aquele silêncio que tanto gosto, pautado por uma ou outra respiração pesada, traduzindo que alguém ainda está no país dos sonhos e não faz intenções de sair, vem lembrar que é uma manhã de sábado como outra qualquer. O perfume de um dia que acabou de nascer também está igual a tantos outros. Eu também não me sinto diferente... ou será que sinto?
Oh... É hoje?
Parece que sim, e não adianta tentarfugir, e também quem quer?
Imagem retirada da net (obrigada a quem a disponibilizou)
Imagem retirada da net (obrigada a quem a disponibilizou)
Dona Andorinha acordou hoje muito atarefada. Há dias que andava para fazer o que tinha que ser feito mas hoje tomou a decisão final!
Iria ao Conselho de Primavera onde estão reunidos todos os que são importantes. Os rebentos de flores, as folhas verdes, a Sr.ª D.ª Cegonha, dama respeitada e com linhagem pura, muito bem acompanhada do seu marido, que nada diz e faz, só tem aquele ar sisudo como se estivesse a pensar algo, algo que esperamos que vá sair a qualquer instante mas que nunca sai! Palavras deixa-as para a Sr.ªDª Cegonha. O menino casulo de borboleta que todos esperam que diga e faça alguma coisa, já que tem muito potencial, mas que no momento do "vamos ver", não vemos é nada! E temos que esperar... e esperar... até que aconteça algo. Poderia contar-se com as Sr.ª Abelha mestra e com a Dª Vespa, mas esses só zuniam e nada faziam. Até a mosca nojenta, o varejão palerma se esperam que estivessem no conselho só para chatear e fazer barulho!
O que a D.ª Andorinha ia fazer era muito importante! Ela que tanto trabalho teve para alimentar os seus filhos, que tanto andou, que tanto penou, que tanto fez, iria agora ficar sem nada!?!
Nem que o Senhores do Consenso de Inverno se esmilhafrassem todos ela não ia deixar que lhe fizessem isso!
E não adiantava que lhe viessem dizer que ela tinha a mania das grandezas! Que andou a pensar em viver acima do que podia! Que só gostava era de muito sol e de flores, de brisas frescas e de ver chegar o verão sem grandes pressas. Ela queria era poder escolher o seu ninho e não ficar sempre com medo que uma qualquer enxurrada o levasse! Além disso Dª Andorinha tinha os seus lindos filhos para alimentar!
E hoje ela estava convicta e plenamente decidida!Iria apresentar uma Moção de Censura ao Inverno!
Já chega! Precisamos de sol! Dizia ela. Se não deixam vir o sol tudo o que quer despontar, crescer, florescer e aparecer, tudo isso fica tolhido, assustado e até pode fugir!!
E como podemos viver com tantas nuvens cinzentonas que não têm mais nada na cabeça senão mandar fazer chover?!?
Não esperava conseguir muito com a sua Moção de Censura, mas tentarnão lhe fazia mal nenhum. Podia ser que assustasse o Consenso de Inverno. Que o fizesse pensar que têm que deixar surgir nem que seja só um bocadinho de Primavera, só um bocadinho de sol, só um bocadinho de brisa... que deixassem de ser tão amuados e mandões! Que vissem mais além do que as nuvens! Que percebessem que a terra se quer abrir para deixar sair a vida!
Mas aqueles senhores pareciam não ouvir ninguém...
Afinal ela não queria ter que ir embora tão cedo quando só agora aqui chegou!
A vida de Andorinha não é fácil! Pode parecer que gosta de grandezas, mas quem é que não gosta de um grande sol?