Existiu em tempos idos um IGAL- Inspeção Geral das Autarquias Locais, e nesses tempos existia lá um Juiz que tentou lutar contra a corrupção. Eh pá! Mas lutar contra a corrupção no nosso País é tarefa para alguém invencível e com super-poderes, coisa que o Sr. Juiz não era!
E até descobriu que um certo Autarca quis fazer o bem à sua família! Coitado, o senhor só queria ajudar o sangue do seu sangue! Que culpa é que ele tem de existirem os concursos? E de até existir uma tal lei que fala em discriminação? O homem só não quis foi discriminar alguém dos seus. E vai daí, arranjou que o processo concursal favorecesse o seu primo, em 2º grau. Nem quero saber se fosse em 1º!
A vaga a ocupar era para chefia de uma divisão Municipal de Cultura, Turismo, Desporto e Juventude. E o senhor Autarca decidiu colocar como pré-requisito alguém que fosse licenciado em História de Arte! Claro, requisito muito importante, sobretudo para receber a módica quantia de 2540.17 Euros mês!!
O Sr Juíz que achou tudo isto muito estranho, quer o tal pré-requesito exigido, quer o facto de ter descoberto que quem presidiu o júri no processo concursal era primo do premiado com o cargo. Cargo esse disputado estóicamente e sem nenhuma esperança por outros concorrentes.
Agora pergunto, será caso único?
Isso não vamos ficar a saber.
Primeiro, porque o Juiz responsável que dirigia a IGAL, Orlando Nascimento, foi exonerado das sua funções. E acusado de "deslealdade institucional". Claro! Então o homem teve o azar de descobrir podres de um tipo que era o Presidente da Câmara de Penela e que entretanto virou Secretário De Estado de Miguel Relvas, sendo até o responsável pelo novo mapa das freguesias e pela lei das finanças locais (disso o homem deve perceber)!!
Depois, só para evitar descobertas, digamos, incómodas, e para não se correr o risco desnecessário de aparecer um Juiz que lutasse contra a corrupção e quisesse ver isto a andar para a frente. E até porque os Presidentes das Câmaras já se queixavam de perseguição. Há que extinguir o IGAL! Assim dorme tudo descansado. Se bem que quem não deve não teme....
Eu não queria, juro que não queria voltar a falar, pelo menos até ao final do ano, novamente na desgraça que nos envolve.
Eh! Páh! Mas é que é demais! Não dá para aguentar tanta, mas tanta audácia! Tanta gentinha que antes de falar devia pensar duas. Não! Três vezes antes de abrir a boca. É que em época de falta de moscas é certo e sabido que vai sair asneira!!
É certo que só devemos recorrer às urgências quando realmente for urgente e não ao primeiro espirro, mas não me parece que seja a isso que o senhor Secretário se refere. E claro, é mais do que certo que devemos ter comportamentos saudáveis! E ainda que devemos prevenir as doenças. Mas o que pensa fazer o Estado para que a população adquira os conhecimentos necessários necessários à prevenção da doença e à promoção da saúde? Sim! Não estou a ver ninguém a ficar doente só para fazer birra!
Pensa investir à séria nos cuidados de Saúde Primários?
Ou vamos continuar nesta mania louca de cortar a direito não ligando a quê?
Será que não se percebe que o melhor ganho, neste caso, é na qualidade de saúde individual que todos ambicionam? Salvo excepções, excepções essas que também precisam de cuidados, mas em outro âmbito. Será que não se percebe que é esse o maior ganho? E em segundo plano a poupança que vamos fazer ao Estado? Estado esse que se coloca à frente do bem estar da sua população! Do povo que incautamente o elegeu!
Não é só atirar do púlpito, "Não adoeçam! Seus cretinos! Não vêm que estão a gastar mais dinheiro! E façam o favor de se tratar em casa com mezinhas! Nada de recorrer aos SNS! Estão a gastar o precioso dinheiro dos impostos. Não vêm que não dá para comprar frotas de carros e arranjar os luxos com que nos banhamos e para que vocês também adoeçam? E não refilem. É esse o preço da democracia!"
Ironia a mais? Será?
Deixem-se, por favor, de demonstrar tanta ignorância! Como é lógico todos os países, todos os Estados, deveriam querer evitar que as suas populações adoecessem, mas para isso é necessário investir nos cuidados de saúde primários. Investimento esse que trará a longo prazo grandes ganhos, em primeiro na saúde geral da população e sem segundo, desculpem, sempre em segundo (mas não menos importante), poupança no resto. Mas nós sabemos que nenhum Governo está habituado a pensar em longo prazo, não é? Muito mais agora que o que se pensa é resolver o imediato.
Nós sabemos isso, mas não precisam de nós lembrar com essas palavras ingénuas. Tentemlá pensar muitas vezes antes de abrir a boca, POR FAVOR. Tenham cuidado com o que vão dizer a uma população ferida, doente e sem alento.