Uma história... um nome.
Ela era tímida, muito tímida. Estudante aplicada, muito interessada nas aulas e com enorme vontade de aprender. O grupo de amigos restrito, entre eles nada de timidez, era considerada a mais divertida do grupo. Descobriu que era forte, apesar do seu aspecto frágil.
Dois alunos mais velhos, que partilhavam com ela o transporte para casa e para a escola, começaram a achar piada gozá-la.
A primeira vez foi porque ela deixou escapar que gostava de ir para casa cedo. Parecia que os adolescentes não deveriam gostar de ir para casa cedo, muito menos dizê-lo! Mas ela não tinha sido informada disso. Começaram a gozá-la a dizer-lhe que queria "ir ver os desenhos animados", ela, apesar de tímida, era forte, e respondeu "se sabem que a estas horas dão desenhos animados é porque também vêm!", devia ter estado calada! Mas ninguém a avisou... foi uma tortura essa viagem e as que seguiram. E das viagens passaram a chateá-la na escola. Mas na escola conseguia escapar-lhes, e até não os ver, já que, felizmente, passavam muito tempo em cafés e a fumar nas traseiras dos pavilhões "com a malta fixe", os "bué". Mas sabia que não conseguia escapar-lhes nas viagens... E quando chegava a casa dava liberdade às sua emoções, e chorava.
Até que um dia a mãe percebeu o seu choro, questionada deixou escapar o que a atormentava. Mas não deixou que a progenitora falasse com a mãe dos "mais velhos", os "bué", convenceu-a de que seria pior e convenceu-se que conseguia. Conseguiria suportá-los e suportar a crueldade.
Tudo servia para a gozarem, o cabelo fino e escorrido, o facto de ser magra, a roupa, que era mais simples, a timidez.Começaram a chamar-lhe marrona porque tinha boas notas... e ela fazia por calar. Aprendeu a "desligar" e aprendeu a ser forte.
Os anos foram passando e o rapaz, desistiu de estudar. A rapariga ainda por lá andava, mas agora, agora já não estava no 9º e ela no 7º. Agora estavam as duas no 9º! Até que a rapariga estava no 10º e a menina gozada, a marrona estava no 11º. Pois... era marrona!
Soube, uns anos mais tarde que o que passou tinha um nome - bullying -
Soube também que muitos passaram, e passam, por situações idênticas, e alguns que incluem actos de crueldade inimagináveis. E são estes actos que nos põem a pensar... Para quê? Que prazer doentio têm em fazer sofrer? São estes os psicóticos? Os futuros criminosos? Será que algum dia têm consciência do que fazem?
E hoje, hoje ela leu a notícia de Amanda Todd, uma jovem vítima de Ciberbullying, outro nome para crueldade.
O bullying deveria ter acabado ou pelo menos ter-se tornado menor. E ao ter nome, ser falado e tornado público deveria ser mais fácil de lidar.
Mas não! Parece que cresceu! Cresceu com a tecnologia, aproveitando-se dela.
Amanda Todd, não foi forte. Como poderia? O "nome" tornou-se mais forte que ela... não suportou. Suicidou-se! Mas deixou uma mensagem.
Será que vão ouvir a mensagem dela?
Será que custa tentar ouvir e perceber que o que se faz não chega? Será que não se percebe que esta é uma das verdadeiras crises contra a qual tem que se lutar e arranjar medidas concretas e coerentes e sobretudo continuadas?